Quando as borbulhas completam 50 anos
O número 50 embala o espumante criado para comemorar os 50 anos da Chandon no Brasil. As cinco décadas não estão apenas na idade da vinícola, filial da divisão Möet & Chandon, empresa do grupo francês LVMH, mas o espumante passa exatos 50 meses nos tanques, em contato com as leveduras, antes de ser engarrafado. E foram elaboradas também exatas 50 mil garrafas desta edição comemorativa.
Pinot noir, chardonnay e riesling itálico, o trio de uvas que marca a receita dos espumantes da Chandon no Brasil, se revela mais complexo neste blend desenvolvido pelo enólogo Philippe Mével.
Comparado com o Chandon brut tradicional, é um vinho com textura mais cremosa e com aromas não tão frutados, mas que chega a ter notas de panificação, resultado do longo contato com as leveduras nos grandes tanques de inox.
E é exatamente esta característica que faz Mével afirmar que é possível elaborar espumantes mais complexos com o método charmat. Ou charmat longo para usar um termo cunhado pelos produtores nacionais que elaboram borbulhas com esta técnica.
Explica-se: os espumantes são vinhos que passam por duas fermentações. Na primeira, a uva é transformada em vinho, no caso dos espumantes, no chamado vinho-base. Na etapa seguinte, o enólogo elabora o blend, não apenas com os vinhos-base daquele ano, mas também com aqueles de safras passadas. E este novo vinho segue para uma segunda fermentação, com a adição de leveduras. Aqui é necessário que a fermentação aconteça em um ambiente fechado: na reação do vinho-base com as leveduras, é liberado o gás carbônico, que forma as famosas borbulhas. E há duas técnicas principais para esta elaboração.
Em todos os champanhes, e a Möet & Chandon é especialista nisso, a fermentação acontece em garrafas, em uma técnica chamada de tradicional, clássica ou até champenoise. Aqui, cada região produtora determina o tempo mínimo que a bebida tem de ficar em contato com as leveduras (ou o que restou dela), em um processo que, sabe-se hoje, o espumante ganha complexidade. Em Champanhe, são no mínimo 15 meses; nos cavas espanhóis, nove meses. No Brasil, não há uma legislação sobre este tempo mínimo.
Mas há um segundo método para elaborar as borbulhas, patenteado em 1907 pelo francês Eugène Charmat. Nele, a fermentação ocorre em grandes tanques de inox, com temperatura e pressão controladas e chamado de método charmat. Como a fermentação é rápida, é possível ter um espumante pronto em apenas um mês. Em 30 dias, nem sempre dá tempo de integrar o gás carbônico ao vinho. O melhor exemplo é que as borbulhas tendem a ser maiores e mais efêmeras. A técnica também resulta em um espumante com notas mais frutadas e com poucos aromas de fermentação, aquelas notas aromáticas que caracterizam os grandes vinhos espumantes.
Mas para obter borbulhas menores e notas aromáticas ligadas à fermentação, muitas vinícolas partem ao que chamam de charmat longo. Ou seja, garantem que o vinho fique mais tempo em contato com as leveduras. É aqui que Mével aposta na complexidade do seu espumante.
Philippe Mével apresenta o Chandon Cuvée 50 anos
O investimento nestes grandes tanques, chamados de autoclave, para resistir à pressão desta fermentação, foi grande quando a Chandon chegou ao Brasil, em 1973, e em suas posteriores ampliações. A vinícola de capital francês desembarcou aqui no período em que nosso país começava a atrair a atenção de vinícolas internacionais. Vieram também para cá, na mesma década, a Martini & Rossi e Heublein. E tiveram um papel importante na história da nossa viticultura, ao investir em vinhedos, em técnicas modernas de plantio e equipamentos de alta tecnologia.
A Chandon foi a única que permaneceu com os mesmos donos deste o início. No caso, a chegada ao Brasil fez parte de um plano de internacionalização dos espumantes, iniciados anos antes com uma unidade na Argentina. Em 1973, a multinacional francesa também investiu na Califórnia. Atualmente, a Chandon tem unidades também na Austrália, na China e na Índia.
Grande tanques de inox: onde os espumantes ganham suas borbulhas
Aqui no Brasil, é uma marca que muito contribuiu para o reconhecimento do potencial do país com as borbulhas. O seu primeiro enólogo, o chileno Mario Geisse, por exemplo, deixou a multinacional para investir no seu próprio projeto e faz sucesso com os seus Cave Geisse. A Chandon também surpreendeu, no final dos anos 1990, ao anunciar que não elaboraria mais vinhos brancos e tintos, focando apenas nos espumantes. Foi um passo importante para as borbulhas nacionais. “Se uma multinacional do porte da Chandon decide elaborar espumantes no Brasil, é porque o país tem vocação”, foi uma afirmação muito ouvida na época.
De lá para cá, a vinícola investiu não apenas em Garibaldi (RS), cidade considerada a capital do espumante brasileiro, como em vinhedos em Encruzilhada do Sul (RS). É a maior produtora de pinot noir brasileira. Recentemente, passou a liderar um plano de viticultura sustentável e até decidiu participar de concursos de vinho, o que não fazia no passado. E chega aos 50 anos, cheia de planos.
“Investir em elaborar apenas espumantes foi uma decisão acertada”, afirma Arnaud de Saignes, presidente mundial da Chandon, no evento de comemoração dos 50 anos de Brasil